Entrevista para revista FHOX - André Mansano, um fotógrafo preocupado com as conexões humanas
Compartilhe
Quero aqui compartilhar um acontecimento muito especial em nossa história. Tivemos uma entrevista comigo publicada na revista Fhox em 7 páginas. Algo jamais pensado por nós. Obrigado ao amigos Leo Saldanha e Mozart Mesquita por um convite que sem dúvida está guardado em nossa história.
Vamos a reportagem.
A edição 190 (dez/2018) da revista FHOX traz uma entrevista completa com André Mansano, fotógrafo de Casamento junto a sua esposa Diésica Mansano, em Maringá-PR. Abaixo, você pode conferir alguns trechos.
André Mansano tornou-se uma referência na fotografia de casamento brasileira. Diversas vezes premiado, trabalha ao lado de sua mulher Diésica na cobertura de casamentos. Além disso, tornou-se um palestrante carimbado com profundo domínio de palco. Hoje conta com dezenas de workshops e palestras realizados pelo País, suas fotos falam por si sós.
Mansano conversou com a FHOX no intervalo do evento IndiRoadshow, que aconteceu em São Paulo. A conversa foi sobre estilo, mercado fotográfico e as relações humanas que ele tenta capturar na fotografia que produz.
André Mansano, um fotógrafo preocupado com as conexões humanas
Um dos mais requisitados profissionais do setor e exímio palestrante, André Mansano vem conquistando um importante papel na história da fotografia de casamento.
FHOX – Como foi o início de sua carreira?
Mansano – Foi em meados de 2009. Minha esposa Diésica se formou em moda em 2009, e eu trabalhava como representante comercial, vendendo ar-condicionado. No último ano do curso de moda, ela teve aula de fotografia. Eu já gostava de fotografia, tanto é que tinha uma câmera analógica, uma Canon Rebel e fazia algumas “brincadeiras” em casa. Ela também começou a gostar e então comprei uma Canon 40D para presenteá-la. O irmão dela trabalhava com moda e conseguiu um cliente para fotografar. Ele pegava as fotos, editava, tratava e montava o catálogo. Mas precisava do fotógrafo, então nos colocou na área. Foram seis meses de estúdio, entramos para valer. Mas depois de oito meses, a moda não agradou mais. Nesse meio tempo, o gerente da empresa onde eu trabalhava, já sabendo que eu estava em duas atividades, me perguntou com qual delas eu ficaria. Falei: “Vou ficar com a fotografia” e ele me dispensou. Essa situação doeu muito porque eu tinha uma renda boa que foi zerada de uma hora para outra.
FHOX – Estudou os grandes nomes da fotografia?
Mansano – Exato. Fui para uma linha mais australiana da fotografia, vendo vídeos de Jerry Ghionis, Yervant e dois outros, que fotografavam em Melbourne e eu achando que Maringá ia ser parecido. Eu peguei as fotos deles como referência, imprimia e ‘mandava bala’, achando que as fotos ficariam parecidas. A inocência é um negócio interessante. Durante a cerimônia, fizemos as fotos num lugar ruim e então logo lembrei que elas poderiam ser feitas fora dali, o que era uma novidade em Maringá. Sugeri ao casal. Onde a gente passava, o noivo olhava e dizia que era legal para fotografar. Eu tirava as fotos do bolso, que usava como referência, para tentar reproduzi-las. Hoje, nos workshops, mostro algumas delas a galera fala: “Não acredito que você apresentava isso para o casal”. Explico que eles não têm noção de que chegávamos em casa e não íamos jantar, mas tratar fotos, alegres e felizes com aquilo. Era o fator inocência, não?
FHOX – O que os levou a mudar isso?
Mansano – Acho que levar umas “porradas”, de alguém chegar e falar “você não deveria ter feito isso”. Ouvir isso de um amigo, dói muito. Isso me fez ouvir mais, ficar quieto, avaliar. Hoje, se você me mandar um e-mail, apontando o que estou fazendo de errado, não te respondo na hora. Lendo aquilo pela segunda vez, tenho certeza de que a interpretação já está mudando. Meu foco é você, o cliente. Se você me escolheu é porque você acredita em mim, no meu trabalho. Agora, estudo o cliente e entrego aquilo que ele sonha receber e não o meu sonho, que é diferente do dele. A relação humana é muito forte para mim, mas só que demora para acontecer.
FHOX – O que leva para seus workshops e palestras?
Mansano – O meu workshop já teve três nomes. O primeiro era “Direção de casais”, que era o padrão. Depois mudou para “Essence” que é a ideia da essência; e depois para “Arautos” que são mensageiros, onde quero ser o fotógrafo que leva a mensagem para o casal. Ele tem que entender a mensagem do casamento. E, talvez, eu e Diésica sejamos responsáveis por levar essa mensagem. O workshop “Arautos” aborda a direção de casais, composição, mas se você olhar o folder dele há depoimentos em que todos falam da relação pessoal e nenhum deles só da técnica. Eles estão entendendo que a técnica é ótima, necessária e aplicada de forma inconsciente. O consciente é cuidar da pessoa.
FHOX – Os prêmios são uma forma de reconhecimento?
Mansano – Sim. Vou contar um fato que poucos sabem. Para montar o primeiro workshop, procurei um líder de uma igreja evangélica e ele me questionou se eu tinha ideia do que estava preparando para aquelas pessoas. Se eu estava preparado para encarar o que elas tinham por dentro. Ele disse que não conhecemos as pessoas sob pressão. Nós as conhecemos em momentos legais, mas que sob pressão cada um entrega a sua verdade. Por conta dessa reflexão, fiquei um ano com o workshop parado. Talvez tenha sido o princípio da mudança. Depois lancei o workshop. Na minha opinião, as premiações são excelentes, mas o fotógrafo vai ter que caminhar para o lado humano, vai ter que aprender agradecer, porque o prêmio não é dele, é de quem está na foto. Você consegue entender que vai ter que dividir agora? Fui premiado, tenho mérito como fotógrafo, mas e se não tivesse o casal? E se esse casal não tivesse levado você no lugar que fez a foto? E se esse casal não tivesse contratado você para o casamento? Você não teria nada. Acho que às vezes falta ao fotógrafo humildade.
FHOX – Qual sonho você imagina para o futuro?
Mansano – Sonho em ser lembrado por ter ajudado as pessoas de alguma maneira. Não é ser lembrado pela fotografia. Queria ser lembrado por montar um caminho que chegue ao ponto de as pessoas se lembrarem do que falei, do que ajudei, do que mostrei, do que apresentei. Foto por foto, passa. É se tornar imortal num sentido mais positivo. Não ser o melhor porque ninguém nunca é. Lembro-me de um workshop no Rio de Janeiro em que uma moça pretendia parar de fotografar. Depois de um ano, ela me escreveu para contar que por causa do meu workshop havia voltado a fotografar. Você consegue entender que talvez a lembrança dela em relação a mim e a Diésica é desse momento, e não por nossa fotografia. Nós a ajudamos a olhar, a mudar o olhar. Então, seria muito legal ser lembrado daqui a dez, vinte ou trinta anos por isso.